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Tricolormania
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Após a fusão com o Tietê, antigos sócios do Tricolor Paulista, inconformados com tudo o que ocorrera, decidiram manter vivas suas convicções sobre o clube, fundando assim o Grêmio Tricolor. Funcionou, pois em 4 de junho de 1935, 235 antigos sócios fundam o Clube Atlético São Paulo. Mesmo assim, o sonho era difícil de ser levado adiante sem dinheiro. Mas eis que após reuniões diárias no escritório da família Mecca e num café da galeria Pirapitingui renascia das mãos de 20 insistentes tricolores,[7] no ensolarado dia de 16 de dezembro de 1935 e após a reunião no escritório de advocacia de Sílvio Freire, localizado em uma das salas do prédio número 9-A da Rua XI de Agosto[10] — onde hoje está a Praça da Sé —, o São Paulo Futebol Clube.[6] A primeira diretoria foi composta por Manoel do Carmo Mecca (presidente), Alcides Borges (primeiro vice), Francisco Pereira Carneiro (segundo vice), Éolo Campos (primeiro secretário), Luís Felipe de Paula Lima (segundo secretário), Manoel de Arruda Nascimento (primeiro tesoureiro), Isidoro Novaes (segundo tesoureiro) e Porfírio da Paz (diretor-geral de esportes).[10][1]
“ | Aos 16 dias do mês de dezembro de 1935, nessa cidade de São Paulo, às 20 horas, numa das salas do prédio 9-A, da Rua XI de Agosto, perante grande número de pessoas interessadas, que atenderam a um convite feito por intermédio da imprensa pela diretoria do Grêmio Tricolor, realizou-se a assembléia que teve por fim fundar o São Paulo FC. Na qualidade de um dos seus diretores do Grêmio Tricolor, presente à reunião, o Sr. Tenente José Porfírio da Paz, depois de expor os motivos da convocação da assembléia, pediu que indicassem um dos presentes àquela reunião, para dirigir os trabalhos. Por unanimidade foi indicado o nome do Sr. Tenente Porfírio da Paz que, assumindo a presidência da mesa, escolheu para seus secretários os Srs. Éolo Campos e Francisco Pereira Carneiro.
Depois de agradecer a sua indicação, o Sr. Presidente deu conhecimento da ordem dos trabalhos que obedeceu à seguinte ordem do dia: a) leitura, discussão dos estatutos; b) eleição da diretoria; c) admissão de sócios como fundadores; d) isenção de jóias; e) convocação da nova assembléia para eleição do Conselho Deliberativo e Fiscal; f) registro dos estatutos. |
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Ficou a cargo de Porfírio da Paz a formação de um novo elenco para o clube que agora era pobre e sofria, pois alguns não acreditavam que poderia voltar à grandeza do São Paulo anterior.[12] Feita a listagem dos jogadores, passou a ir a todas as rádios a fim de arrecadar dinheiro para as contratações. Porfírio chegou a gastar sua fortuna particular e a vender parte considerável de seu patrimônio para ajudar o clube. Mesmo assim, os resultados não foram animadores, o montante arrecadado não era grande e a maioria dos primeiros jogadores era de moradores da periferia e de origem muito humilde. Enquanto Porfírio se encarregava de angariar fundos e jogadores na própria capital, o presidente Manoel do Carmo Mecca e o treinador Del Debbio viajaram até a capital paranaense para contratar o já conhecido goleiro King, que viria a ser primeiro goleiro negro a jogar por um clube paulista e inventor da ponte. O primeiro treino do clube foi um jogo contra o Clube Atlético Paulista no campo da Rua da Mooca, e o tricolor venceu por 7 a 3. Já a nova sede foi inaugurada na praça Carlos Gomes, número 38, ao dia 24 de janeiro de 1936.[6]
O clube bem que pretendia estrear no próprio ano de 1935, mas, por conta da fusão e da desfiliação da APEA, não foi possível. Dessa maneira, a estreia do novo clube foi marcada para 25 de janeiro de 1936, contra a Portuguesa Santista, no estádio Antônio Alonso. No mesmo dia do jogo havia uma comemoração para o aniversário da cidade na Avenida Paulista, e uma portaria baixada pela Secretaria de Educação impedia a realização de manifestações ou eventos que pudessem, de alguma forma, rivalizar com a parada. Faltando pouco tempo para o início do jogo, Porfírio foi até a Paulista a fim de convencer o médico Cantídio Campos, então secretário municipal da Educação, a autorizar a partida. Porfírio subiu no palanque e argumentou a favor do time que leva as cores e o nome da cidade. Cantídio aceitou os argumentos e autorizou em seu próprio bloco de receitas a abertura dos portões e posterior realização do jogo. Porém, na hora de ir ao estádio, não havia bondes circulando pela cidade. Foi então que Porfírio, mais uma vez ele, alugou com seu próprio dinheiro carros para levar jogadores e torcedores para a partida.[6]
Nos primeiro anos dessa nova vida o clube era conhecido pelas outras agremiações e seus respectivos torcedores como um time de pobretões. Não bastasse isso, a imprensa de um modo geral, além de também os chamarem de pobres, tratava o clube pelos nomes de "Júnior", "Clube n.º 2" e "São-Paulinho". No entender de grande parte da população paulistana, a nova agremiação não poderia chegar às glórias da anterior e sequer chegar ao mesmo patamar de Corinthians e Palestra Itália.[6] Porém, após tantos empecilhos e ressurreições, ganhou em 1937 o apelido de "Clube da Fé", dado pelo jornalista Thomaz Mazzoni, que perdura até hoje.[6][1][12]
“ | Recentemente, surgiu o São Paulo FC Júnior com as mesmas pretensões do antigo. Se o novo São Paulo veio ao mundo da bola sem os haveres, fama e prestígio dos seus antepassados, trouxe a maior das riquezas: a fé no seu destino, o amor ao seu hoje. Somente a fé poderia levar o atual Tricolor a nascer como um clube varzeano qualquer e tornar-se logo uma agremiação no caminho reto do progresso do futebol superior. O Clube da Fé, como merece ser chamado o atual São Paulo FC (…) | ” |
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Nessa época o clube não possuía sócios, fonte de renda e sequer patrimônio. Treinava e jogava onde deixavam. Não havia nem lugar para fazer a concentração, que tinha que ser improvisada com metade do elenco na casa do presidente Frederico Menzen e outra metade nos beliches que havia na torre da igreja da Consolação, paróquia do Monsenhor Bastos, ilustre são-paulino. Os treinos eram por vezes realizados no pátio da própria igreja junto ao local onde os congregados marianos jogavam basquete. Quando havia disponibilidade o time treinava no campo da Várzea do Glicério, mas com a condição de desocupar o local assim que os times, donos do campo, chegassem.[6]
Porém, mesmo com toda a força de vontade e fé de seus dirigentes e o forte apelo popular herdado do Paulistano e do Palmeiras, a verdade é que os jogadores do São Paulo, com raras exceções, eram fracos tecnicamente. O time conseguiu apenas um oitavo lugar no Paulista de 1936 e um sétimo lugar no ano seguinte.[7] Isso seria resolvido com uma nova fusão: em 1938 o Clube Atlético Estudante Paulista, fundado em maio de 1935 por dissidentes do São Paulo, fez uma excursão ao Chile e ao Peru, em que o empresário fugiu com o dinheiro arrecadado, deixando o clube às portas da falência. O São Paulo, sabendo da situação, resolveu propor uma fusão, pois o Estudante era formado por bons jogadores e possuía o estádio Antônio Alonso; já o São Paulo possuía torcida, carisma e as contas em dia. Sobrou a dúvida sobre o nome do clube. Os tricolores alegavam que eram mais antigos e que já possuíam uma tradição, além de levar o nome e as cores do estado. Pois foram esses argumentos que prevaleceram, com a condição que o novo presidente fosse alguém neutro, ligado aos dois clubes, Piragibe Nogueira. Outra decisão foi a de que sócios de ambos os clubes teriam seus números de matrícula zerados para facilitar a fusão. O São Paulo então arrecadou o dinheiro para saldar a dívida, e o acordo foi então fechado. Em 25 de agosto de 1938 o novo time estreou, já contando em seu quadro de atletas com metade do time do Estudante, entre eles Roberto Gomes Pedrosa, futuro presidente do clube. A nova sede ficaria no prédio da Rua Dom José de Barros, número 337, na República.[6]
Curioso notar que semanas antes da fusão, em 3 de julho de 1938, o São Paulo promoveu o "Festival do São Paulo FC", que oferecia a Taça Henrique Mündel ao vencedor justamente para arrecadar fundos, apesar de a situação financeira do clube já estar estabilizada.[13] Como clube organizador, o São Paulo participou do quadrangular entre Portuguesa, Corinthians e Palestra Itália, com o Corinthians conquistando o título. Por ser um torneio de cunho amistoso promovido pelo São Paulo, os clubes participantes concordaram em não cobrar entradas, ficando a cargo de quem fosse assistir aos jogos a decisão de pagá-las, e que a eventual renda seria destinada ao tricolor, não havendo doação, portanto.[13]
Após a fusão, e já com um time capacitado, o tricolor chegou ao vice-campeonato do Paulista de 1938 — poderia ter sido campeão não fosse o gol de empate do atacante corintiano Carlinhos, feito com a mão e validado pelo juiz de forma polêmica (o empate dava o título ao Corinthians).[14] Já no ano de 1939 os jogadores ainda estavam se adaptando, tanto é que conseguiram apenas o quinto lugar no Paulista daquele ano.[7] Nessa mesma época o clube começou a estimular a prática de outros esportes que não o futebol.[15]
O São Paulo foi pioneiro em torcidas organizadas. Em 1939 o cardeal são-paulino Manoel Raymundo Paes de Almeida fundou na Mooca o Grêmio são-paulino, que depois se transformaria na TUSP — Torcida Uniformizada do São Paulo. Ela era uma torcida entusiasmada e que fazia comemorações por conta própria com serpentinas e confetes.
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