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Tricolormania
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Após o dia 27 de abril de 1940, com a inauguração do estádio do Pacaembu, o futebol paulista nunca mais foi o mesmo. A partir daquela data a cidade contava com o até então maior e mais moderno estádio da América Latina, com capacidade para 70 mil torcedores. Isso fez com que o eixo do futebol fosse deslocado do Rio de Janeiro para São Paulo, passando a ser não só um evento esportivo, mas social também. Era o período da ditadura Vargas, em que eram proibidas ostentações das bandeiras estaduais.[6][17]
As pessoas começaram a chegar cedo, por volta de 10 horas, e na hora das festividades estima-se que o público estivesse entre 60 mil e 80 mil. Muitas autoridades se fizeram presentes nas tribunas de honra, entre elas Getúlio Vargas, presidente da República, por quem os paulistas não nutriam muita admiração. As festividades tiveram início com o desfile de delegações da Argentina, Uruguai, Peru, Paraná, Minas Gerais, Rio de Janeiro, interior de São Paulo e, claro, dos clubes da cidade de São Paulo. As equipes de Corinthians e Palestra Itália foram as primeiras a entrar, sendo ovacionadas pelos presentes, mas nada comparado à entrada do Tricolor Paulista. O estádio inteiro e os locutores de todas as rádios, revoltados com a censura, driblaram-na ao aplaudir de pé a entrada da delegação tricolor — que trazia, além do nome, as cores da bandeira paulista — como uma resposta ao presidente, odiado em São Paulo desde a Revolução Constitucionalista de 1932. O público presente se levantou para saudar a delegação e, apontando para a tribuna onde estava Getúlio Vargas, gritavam o nome do time.[6]
“ | O público esportivo propriamente dito demonstrou quanto é querido o S. Paulo F.C., pois, ainda que apresentasse pequena turma, recebeu calorosas palmas, sendo o nome ovacionado deliberadamente. | ” |
No dia seguinte, o jornal A Gazeta Esportiva estampou em sua capa a manchete "O Clube Mais Querido da Cidade". Passado mais um tempo, o DEIP — Departamento Estadual de Imprensa e Propaganda — promoveu um concurso público entre torcedores de todas as agremiações da época para saber realmente qual era o clube mais querido pelos cidadãos da cidade. Com Corinthians e Palestra Itália sendo favoritos — pois possuíam as maiores torcidas —, o vencedor acabou sendo o São Paulo, com 5 523 votos, mais que a soma de votos dos seus dois principais concorrentes: foram 2 671 votos para o Corinthians e 2 593 para o Palestra. Portanto, o São Paulo é oficialmente "O Mais Querido", slogan que figura até hoje entre os impressos de correspondência do clube.[6]
No mesmo ano, em 19 de maio, o São Paulo recebeu a taça do primeiro título oficial conquistado no Pacaembu, o Torneio Início do Campeonato Paulista, em cima do arquirrival Corinthians.[6] No torneio que valia a taça estadual, porém, ficou apenas em sexto lugar. Em 1941 o time alcançou o vice-campeonato estadual, voltando, então, a flertar com o título.[7]
Em 1942 o São Paulo passaria a ter um divisor de águas na sua história, Leônidas da Silva. Já com certa fama nacional, ele fez um jogo, em dezembro de 1932, pelo selecionado nacional, contra a equipe do Uruguai e marcou os dois gols da vitória por 2 a 1. Pela sua atuação ganhou o apelido de "Diamante Negro". Seu outro apelido conquistado foi "Homem de Borracha", pela sua atuação no jogo contra a Tchecoslováquia, em que, além de marcar dois gols, executou sua jogada mais famosa, a bicicleta. Pois Leônidas estreou em 24 de maio de 1942 contra o Corinthians e terminou o campeonato elevando o time ao terceiro lugar, já com esperanças de um futuro promissor.[6] Leônidas foi o divisor de águas da história são-paulina, pois o clube até então havia ganhado apenas um estadual, em 1931, e a partir do momento em que estreou o São Paulo angariou diversos títulos.[6]
Por conta do grande público (70 281 pessoas, recorde de público do Pacaembu de todos os tempos) e pela importância dessa partida da estreia de Leônidas, o clássico entre o Tricolor e o Alvinegro Paulista ficou conhecido como Majestoso, apelido dado pelo jornalista de A Gazeta Esportiva Thomaz Mazzoni.[6]
Nesse mesmo ano o Brasil passava por um momento histórico delicado. No meio da Segunda Guerra Mundial, aflorava um sentimento anti-italiano no país devido ao fato de a Itália pertencer ao Eixo. Ainda nesse aspecto, o governo instaurou uma dura repressão aos países que estivessem contra os Aliados.[6][18][19] Dessa maneira, instituições alemãs e italianas foram fechadas, mudaram de nome ou sofreram intervenção direta do governo, entre os clubes pode-se citar o Cruzeiro Esporte Clube, que também chamava-se Palestra Itália e que mudou de nome. Os alviverdes, no entanto, acreditam que a perseguição foi motivada pelo São Paulo, que nutria interesse em tomar para si o estádio Palestra Itália e que obrigou o Palestra Itália a mudar seu nome para Palmeiras. Oberdan Cattani, goleiro palestrino, disse certa vez que o São Paulo mandava na Federação Paulista e por isso agia daquela maneira. Esquecem-se, porém, que o Tricolor Paulista ainda era um time de menor expressão e que Getúlio Vargas não nutria muita simpatia pelo clube após os acontecimentos da inauguração do Pacaembu.[6] Ainda no mesmo ano o São Paulo se associou à Deutsch Sportive — que também sofria preconceitos por sua origem alemã — e passou a ter um campo para treinamentos, o Canindé.[20] Apesar de ser uma associação, o terreno do Canindé — equivalente a 70 mil metros quadrados — foi comprado pelo equivalente a 740 contos de réis. O São Paulo passaria a ser conhecido como Tricolor do Canindé.[6]
Na reunião que definiria o calendário do Paulista de 1943 na sede da Federação Paulista, um dirigente do Corinthians disse que o encontro não era necessário, pois, ao lançar uma moeda ao ar, o campeão seria definido: se desse cara, o campeão seria o Corinthians e, se desse coroa, o Palmeiras — antigo Palestra Itália. Ao ser questionado sobre o São Paulo pelo representante tricolor, o dirigente respondeu que se a moeda parasse em pé o campeão seria o São Paulo — e, se parasse no ar, a Portuguesa.[21] Realmente, até aquele momento o Tricolor era tratado com um time mediano que não rivalizava com os rivais supracitados. Dessa maneira se iniciou o campeonato, com o São Paulo disposto a quebrar a hegemonia de Corinthians e Palmeiras. No último jogo, contra o Palmeiras, o São Paulo segurou um empate sem gols e faturou o título: a moeda caiu em pé.[6] Por conta dessa conquista, o então Grêmio são-paulino fez uma marcha à noite com um carro alegórico que continha uma moeda em pé somente para ir buscar a Taça dos Invictos no prédio de A Gazeta Esportiva.[16]
A década de 1940 foi a mais rentável em termos de títulos para o tricolor até então: foram cinco, com direito a dois bicampeonatos — Paulista de 1945/Paulista de 1946 e Paulista de 1948/Paulista de 1949 — e um título invicto — Paulista de 1946.[6][7] Esse time ficou conhecido como "Rolo Compressor" — quando entrava em campo desconhecia-se apenas o placar, pois a vitória era garantida — e serviu para estabilizar o São Paulo como associação esportiva, já que a partir dessa época o clube desenvolveu de maneira rápida inúmeras atividades.[22]
Com a hegemonia do São Paulo, atrelada à recente acusação sobre a tomada do Palestra Itália e a disputa pelos títulos entre os clubes, o clássico ganhou em importância e foi apelidado, novamente por Thomaz Mazzoni, como Choque Rei.[23] Também foi a partir dessa década que o clube passou a formar, junto a Corinthians e Palmeiras, o chamado Trio de Ferro.[6]
Nessa época foram criados os departamentos de atletismo, esgrima, pugilismo, vôlei e xadrez, todos eles em 1943.[10], basquete[24] Alguns deles, porém, não tiveram tanto êxito e acabaram fechando após alguns anos, como as atividades de esgrima, xadrez e vôlei, sendo que a última voltaria à ativa em meados da década de 1970.[10] Dentre os muitos departamentos criados, o de atletismo merece destaque, pois logo em seu segundo ano, 1944, conquistou uma série de catorze títulos paulistas, que acabariam somente em 1957. Porém já em 1961 conquistaria esses mesmos títulos até 1966, sendo, portanto, campeão por 20 vezes em 25 anos.[25]
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